Por Eduardo Xavier
[singlepic id=14329 w=380 h=540 float=right]Sempre me preocupei com o pensamento menor, aquele comezinho e rés do chão que se assenhora de muitas autoridades constituídas quando se trata de discutir o que é fazer arte e cultura. Nessas nossas terras de pouca ou nenhuma cultura, nas plagas que se derramam pelos torrões nordestinos do Brasil, não é demais afirmar que quando se trata de falar de cultura, os narizes dos representantes constituídos (os ditos gestores públicos com cargos eletivos) se contorcem automaticamente. Mas, antes, reflitamos sobre o que eu afirmo sobre as “terras de pouca ou nenhuma cultura.” Claro, não deixa de ser uma hipérbole essa minha afirmação. Claro está também que quero chamar a atenção do leitor sobre um problema grave que acomete os nossos rincões – e não falo dos rincões miguelenses em especial, mas daqueles do entorno que se espraiam como ondas em movimentos centrífugos (imaginem uma pedra jogada num lago calmo e as ondas se alongando do cento para a periferia! Imaginou? Pois é isso o que quero dizer!)
Logicamente cada povo, cada país, cada região tem o seu esteio cultural baseado nos modos de vida de sua população. Nada deixa de ser cultural, ou seja, para uma melhor compreensão da causa: tudo o que as pessoas vivenciam é um fenômeno cultural, desde o hábito de tomar um cafezinho até o de dispensar o supermercado e ir à feira livre comprar suprimentos. Assim, quando assevero que existem “terras de pouca ou nenhuma cultura” quero dizer da cultura que estuda a cultura, ou seja, a cultura acadêmica, dita erudita. Mas, o que faz a cultura erudita para que o gestor público de pouca ou nenhuma compreensão acadêmica, paciência, erudição, boa vontade, respeito com a res pública ou tudo isso encarnado numa só pessoa torça o nariz? A resposta óbvia: o pavor de ser desmascarado como um néscio! Lógico, qual o gestor público que depois dos abraços dos palanques, os risos largos, os tapinhas nas costas, a encenação de campanha e já senhor (ou senhora) de uma cadeira confortável de espaldar alto, birô, secretária à mão e caneta pronta para nomear ou anular, sancionar ou negar não se sentiria desconfortável de, já no papel de (pretenso) todo-poderoso, ser desmascarado num piscar de olhos como um sabe-nada das ações cultuais, o que é e para que serve tais ações, quanto vale fazer cultura e mais, qual o retorno social e financeiro que ela tem a dar à comunidade de um bairro ou de uma cidade?
[singlepic id=14330 w=320 h=240 float=left]Para essas respostas, repito como um mantra: só a educação pode responder! Mas, a educação de quem? A educação como um todo para todos, inclusive para os gestores públicos de cargo eletivo. Estudar, estudar, estudar. Duas digressões: como infelizmente no Brasil, para ser gestor público com cargo eletivo basta comprovar que sabe assinar o nome (isso para ficar demonstrado para o mundo que o Brasil é um país democrático, não fecha as portas para ninguém, todos podem concorrer livremente às eleições)… Não quero falar aqui em questões ligadas à honestidade, pois honestidade não está carimbada em diplomas, logicamente que não, mas nas ações de vida de quem se candidata e vence as eleições! São as provas cabais daqueles que mantêm a palavra dada, das ações retas do dia-a-dia, dos costumes prudentes e da discrição no seu fazer que carimbam o rótulo de HONESTO a quem quer que pratique a honestidade! Academia e diplomas não são segurança de honestidade, longe de mim afirmar isso, mas que ajudam a tornar o gestor público mais eficiente porque culto, ah, ajudam sim!
Mas, voltando à questão da compreensão do que é o fazer cultural por parte do gestor público: fazer cultural significa, nada mais, nada menos do que empregar mão de obra qualificada em determinadas ou mesmo todas as zonas de ação cultural, seja no cinema, no teatro, no documentário televisivo, nas Artes Visuais, na dança, na literatura e para não ficar só na erudição. Ou descambemos gulosamente para a gastronomia ou apreciemos o artesanato, enfim, tudo que diga respeito a um povo e a uma região. Como eu assegurei antes “tudo o que as pessoas vivenciam é um fenômeno cultural, desde o hábito de tomar um cafezinho até o de dispensar o supermercado e ir à feira livre comprar suprimentos.” No entanto, há de se ter cautela quando se trata de produção cultural (os itens acima citados), ação próxima, mas não igual ao fazer cultural. Este diz mais da criação do artista em se exprimir através do seu produto artístico, grosso modo, enquanto a produção cultural dirá mais de como movimentar estética, artística e principalmente economicamente este produto. (Ah, agora os gestores públicos, caso se tenha dignado a ler esta humilde epístola pulularão de suas cadeiras confortáveis de espaldar alto e dirão “eureca”, descobri a pólvora para o povo! Cifrões, cultura é cifrões”). Pois é, senhores (ou senhoras) gestores públicos de cargos eletivos, cultura e seu produto, em qualquer gabarito que se os coloquem significam, entre outras coisas, cifrões, renda, troca de moeda, escambo, pecúnia, dinheiro, entre outras coisas.
[singlepic id=14331 w=320 h=240 float=right]Bem, escrevi sobre cultura e o fazer cultural de forma breve e praticamente encerrei o artigo dizendo que o fazer cultural, através de sua produção pode gerar dividendos, só para ver se convenço os gestores públicos a se cercarem melhor, no seu staff, de pessoas que entendam de fato e de direito o que é fazer arte e cultura e o que é produção cultural e para tal enfatizei o lucro financeiro (não sei se os convencerei, pois já parágrafos adiante já os espinafrei tanto que o rancor e o ódio já teriam se apoderado de seus peitos orgulhos? Só porque lhes disse umas poucas e boas verdades! Mas não tem uns que merecem ouvir poucas e boas, não é, prezado leitor e leitora?). Enfatizo: fazer cultura e arte não é só lucro financeiro não, ou melhor, é a última coisa que a arte e a cultura fazem. Antes, fazem pensar muito, meditar e como pensar e meditar se tornam um perigo para os gestores públicos de cargos eletivos, pois, em pensando, o povo se liberta, tudo ficará como dantes no Castelo de Abrantes, ou seja, os narizes vão continuar contorcidos. Triste fim de um artigo, mas é a pura verdade nas plagas que se derramam pelos torrões nordestinos do Brasil onde o pensamento muitas vezes pode ser menor, comezinho e rés do chão.