Reprodução gazetaweb
Centro Comunitário de Bebedouro aloja desabrigados de enchentes.
Elas aguardam por novas moradias prometidas pelo governo estadual.
[singlepic id=13950 w=420 h=340 float=left]Há mais de 20 anos o prédio do Centro Comunitário Hélio Porto Lages, no bairro da Chã do Bebedouro, em Maceió, serve de moradia para famílias que ficaram desabrigadas há décadas por causa das enchentes. Falta de estrutura, infiltrações e ligações clandestinas de energia compõem a realidade de quem foi obrigado a abandonar a casa onde vivia devido a situação de risco, para morar no abrigo que deveria ser provisório.
Do lado de fora, o prédio parece um imóvel abandonado. Mas basta um olhar mais atento para perceber a ocupação das 32 famílias que vivem no antigo centro comunitário que oferecia diversas atividades de esporte e lazer para a comunidade.
A ocupação do espaço começou nos anos 80 e a maioria das pessoas saíram de áreas de risco ou haviam perdido a casa por causa das chuvas. Com a ocupação, as atividades no local acabaram e até o grupo Guerreiro Treme-Terra de Alagoas, que se reunia no local, teve que buscar uma nova sede.
O imóvel está totalmente deteriorado. Mato, lixo, infiltração, além do telhado que foi danificado pela ação do tempo, são apenas alguns dos problemas do lugar. Há 24 anos morando em uma das salas improvisadas, o aposentado Germano Ferreira da Silva, 70, já perdeu as esperanças de um dia deixar o local. “Tenho muita vontade de ter uma casa para morar e sair daqui. Mas são tantos anos que não sei se isso vai acontecer. As promessas são muitas, só que até agora nada foi feito”, lamentou.
Silva disse que com o salário da aposentadoria não tem condições de pagar aluguel. “Tinha uma casa minha e perdi na enchente. Depois disso não tive mais dinheiro para comprar outro imóvel. Acabei me acostumando com as pessoas daqui e ao modo de vida mais difícil, mas só vivo aqui porque é o jeito”, falou.
Uma das lideranças do local, Lucineide Ferreira da Silva, 43, mora no espaço há 10 anos com o marido e duas filhas. Ela é filha de Silva e uma das moradoras que está sempre procurando as secretarias municipais e estaduais para tentar negociar moradia para as famílias. “Antes havia muita promessa, mas nada concreto ou alguém que fosse até as autoridades para cobrar um local digno para viver”, conta.
Ela mora na antiga biblioteca que foi desativada. No local Lucineide conseguiu dividir o cômodo em uma sala, dois quartos e um banheiro. Como no local não tem pia, ela lava roupas no quintal improvisado e pratos na casa do pai, que fica ao lado da sua. “Fomos nos adaptado as dificuldades. Um vizinho ajuda o outro e assim vamos vivendo na medida do possível”, falou.
Lucineide conta que os moradores sempre tiveram que se organizar para garantir a convivência harmônica no local. E que no passado houve até problemas de pessoas envolvidas com drogas. “Temos uma espécie de associação com pessoas consideradas lideranças que estão mais atentas ao que acontece. Também ficamos responsáveis por cobrar das autoridades quando existe alguma necessidade, seja de saúde ou alimentação”, expôs.
Famílias reformaram espaços
[singlepic id=13951 w=420 h=340 float=right]A aposentada Maria José Costa de Mima, 66, Mora há 18 anos no local. Ela conta que perdeu a casa que ficava em área de risco no bairro e que soube do local por moradores. “Eu pedi a um homem que tomava conta do local para vim morar aqui. Ele deixou e estou até hoje”.
Desde então, Maria José vive com o filho em duas salas. Para ampliar o espaço, ela abriu uma porta para a lateral do prédio e fez um cercado com madeira. Neste espaço, foi construído um banheiro improvisado e um tanque onde a família lava roupas e louça. Ela também tem uma criação de galinhas em um cercado de madeira. “Já gastei muito dinheiro aqui para fazer com que as salas virassem uma casa. Meu sonho é ter um local digno para morar porque é muito difícil viver sem estrutura”, lamentou a aposentada.
Assim como Maria José, outros moradores reformaram os cômodos que ocupam. Alguns conseguiram um local com banheiro, o que tornou a mudança mais simples. Sem muito dinheiro para reformar o local, muitas salas estão com buracos na parede que servem de passagem a outros cômodos da casa improvisada.
Ao redor da estrutura do antigo centro comunitários há muitas cercas dividindo espaços. Também há alguns barracos de madeira onde moram uma ou duas pessoas. Dentro dos cercados há tanques, panelas, utensílios de cozinha e varais de roupas. Eles são feitos próximo a parede das salas onde foram construídas portas que dão acesso ao interior do imóvel. “Tentamos fazer com que o local que moramos fique parecido com uma casa”, disse Maria José.
Falta de estrutura
[singlepic id=13949 w=420 h=340 float=left]Outra moradora, Lucirleide Ferreira, 24, disse que conta os dias para deixar o local e ir morar em um imóvel com as mínimas condições. Ela mora com uma filha em duas salas. Uma delas virou um quarto e a outra é dividida entre a sala de jantar e a sala de estar. Apesar do espaço parecer uma residência comum, a moradora reclama das más condições que vive no local.
Segundo ela, infiltrações deixaram paredes mofadas oferecendo risco a saúde dos moradores. “Nunca foi feita uma reforma na estrutura. Alguns locais estão até com buracos na parede. Um deles é um banheiro coletivo que está quase sem condições de uso. Alguns moradores tentam fazer alguns reparos, mas isso não é suficiente”, expôs.
A falta de saneamento é outro problema que coloca em risco a saúde das famílias. Ao lado das casas improvidas é possível ver o esgoto à céu aberto passando pelo terreno até chegar a rua. “As crianças brincam descalças nos quintais e do lado de fora onde passa o esgoto. Sabemos que isso é um risco, mas não tem outro jeito”, falou a moradora.
Para Lucirleide, além da falta de estrutura, outro problema enfrentado é que os moradores não têm comprovante de residência. “É muito difícil sobreviver dessa forma. Não temos comprovante de renda e de endereço, e vivemos ainda sem nenhuma privacidade porque todos moram muito próximos”, disse.
Saúde
De acordo com a Secretaria Municipal de Assistência Social de Maceió (Semas), as famílias que vivem no alojamento improvisado são atendidas pela equipe técnica do Centros de Referência de Assistência Social (Cras) de Bebedouro. A coordenadora geral dos Cras, Denaide dos Santos Oliveira, explicou que os técnicos fazem visitas regulares no local e sempre informam a situação as outras secretarias.
“Nossa parte é a questão da assistência social. Conseguimos que alguns moradores fossem atendidos por programas sociais do governo como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada. Para outros serviços, muitas vezes os próprios moradores acionam os órgãos responsáveis por políticas de assistência”, informou a coordenadora.
Esperança
[singlepic id=13948 w=320 h=240 float=left]A expectativa das famílias é de que sejam contempladas com imóveis do conjunto residencial José Aprígio Vilela, localizado no bairro Benedito Bentes. O conjunto foi construído pelo programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal. São 1.923 unidades se destinam à população com renda mensal de até três salários mínimos.
Para Lucineide Ferreira, a informação de mudança trouxe esperança aos moradores. “Estou mais confiante de que no próximo ano já vamos mudar daqui. São muitos anos de dificuldades e não aguentamos mais promessas. Agora já nos colocaram no cadastro do conjunto no Benedito Bentes e acredito que todos vamos para uma moradia melhor”, falou.
A Secretaria Estadual de Infraestrutura (Seinfra) informou, por meio de sua assessoria de comunicação, confirmou que os moradores serão transferidos para o conjunto habitacional que já está pronto. No comunicado foi exposto que a previsão e de que a entrega das casas do conjunto habitacional sejam em janeiro do próximo ano. Ainda segundo a assessoria, o prédio em Bebedouro pertence ao Estado e deve ser reformado e destinado para abrigar algum serviço público após a saída dos moradores.