Primeira Edição
O assunto poderia ser considerado ‘questão interna’ da Igreja Católica, mas não é: eleição, processo político-partidário, é assunto da população e, por isso, também envolve as instituições religiosas.
Há muitos anos a cúpula da Igreja Católica decidiu proibir a participação de padres em eleições populares por entender que não se deve misturar religião com política. A posição é questionável.
Primeiro, porque uma parcela considerável da população brasileira não tem o devido preparo para entender o processo político e, por conseguinte, para votar de forma consciente e esclarecida.
Segundo, porque a Igreja – qualquer que seja sua vertente – não pode cuidar apenas das questões espirituais dos fiéis, cabendo-lhe, dentro de seus limites, atuar também no terreno material.
Hoje, existe no Congresso Nacional uma ‘bancada evangélica’ formada por deputados e senadores de várias igrejas, e que tem marcado posições se postando contra a aprovação de projetos contrários ao interesse comum, como a liberação do aborto e a descriminalização das drogas.
Portanto, nada mais natural do que perguntar por que os religiosos católicos não podem – ou não devem – participar de eleições, conquistar mandatos e, como seus irmãos de outras igrejas, representar o povo defendendo seus interesses mais legítimos?
No passado, o célebre padre Arruda Câmara, como deputado federal, conseguiu retardar em anos a aprovação do divórcio no Brasil. Foi ou não uma atuação válida para a Igreja e para o País? Então, por que não liberar os sacerdotes permitindo-lhes a participação no processo eleitoral em nome da sociedade? Eis um tema grave, relevante, que precisa ser discutido no âmbito da Igreja Católica.