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Morte de empresário há uma semana, em plena luz do dia, escancara violência no bairro em área nobre de Maceió
Sensação de medo, insegurança, perseguição e impotência. Em alguns casos, o sintoma é contrário e a pessoa tem ataques de fúria e agressividade. A descrição leva a comparação com alguma patologia clínica, mas estes são alguns dos efeitos que a violência anda causando na população de Maceió.
A violência há tempos deixou de ser algo restrito a comunidades carentes ou de grandes centros urbanos. Não é difícil ouvir relatos de pessoas que afirmam já terem sido assaltadas, outras que conhecem alguém que teve a casa ou o carro roubado e, em casos mais extremos, que presenciaram o espancamento de um assaltante em algum ponto da cidade.
Nos últimos meses, moradores e comerciantes dos bairros da Mangabeiras e Jatiúca compartilham estes sentimentos. A situação foi agravada na última segunda-feira (7) quando o empresário Admir Gusmão foi morto com um tiro na cabeça na porta de uma clínica médica na Mangabeiras. Quem mora ou trabalha no entorno prefere silenciar a violência, e em alguns casos – como o dono de um estabelecimento comercial próximo à cena do crime e que não quis se identificar, afirmar “não ter nada a declarar”.
Vida atrás das grades
A reportagem do TNH1 percorreu na última quinta-feira (10) algumas ruas do bairro para conversar com moradores e comerciantes sobre a onda de assaltos. Mesmo durante o dia, as ruas e avenidas são vazias, apenas o movimento de poucos moradores a pé ou entrando e saindo de carro das garagens dos prédios.
Muitos moradores preferem não se identificar ou fogem da exposição para relatar os assaltos corriqueiros.
Na avenida João Davino, muitos comerciantes já aderiram ao comércio por trás das grades e só permitem a entrada no estabelecimento de quem é conhecido. A família de Jane Franciane foi obrigada a adotar as grades no mercadinho após sofrer um assalto.
O assalto aconteceu em junho e foi praticado por três jovens. Ela contou que um deles entrou no estabelecimento para comprar um salgadinho e anunciou o assalto.
“Um deles ficou na porta vigiando e o outro que estava com uma pistola entrou e apontou a arma para a minha cabeça. Estava com minha mãe na hora e ficamos muito nervosas, com medo daquele garoto apertar o gatilho. Entreguei todo o dinheiro e eles fugiram a pé. Depois disso, meu esposo decidiu colocar grades e não abrir a porta para estranhos”, contou.
Quem foi vítima de assalto afirma que falta policiamento na região. Moradores dizem que veem viaturas passando pelo local, mas que a presença não tem conseguido inibir os assaltos.
Uma moradora do bairro da Jatiúca, que não quis ter o nome revelado, contou que foi recentemente assaltada na porta de sua residência. Ela contou que chevaga em casa do trabalho e dois jovens armados a abordaram e anunciaram o assalto. Os ladrões levaram a bolsa e todos os pertences. Nossa entrevistada disse que apesar de morar em um bairro da orla, com grande circulação de pessoas e turistas, sente falta de um maior policiamento.
“Não posso negar que a polícia não passa por aqui. O problema é que ela passa e vai embora. Nessas horas, eles aproveitam e assaltam”, disse a moradora.
Mãos ao alto
A onda de assaltos não fica restrita às ruas do bairro da Mangabeiras. Na parte alta e principalmente nos bairros da orla eles tem até hora certa para acontecer com mais frequência. Segundo Ariel Almeida, chefe de operações da delegacia do 2 Distrito, a Polícia Civil começou a investir nas diligências entre as 17h e 21h, período em que a maioria dos assaltos acontecem.
A maioria, explica, é cometida contra mulheres e idosos, alvos considerados fáceis de abordar e que costumam não reagir nas ações. As ações investigadas pelo Distrito policial foram cometidas no meio da rua ou quando a vítima chegava em casa. A Polícia Civil procura por Tiago dos Santos Vieira, de 24 anos, acusado de praticar assaltos na Jatiúca.
“O Tiago já cometeu alguns assaltos na região e que estamos procurando. Ele foi assaltar uma moça aqui na Jatiúca e na hora da abordagem ele foi surpreendido porque ela lutava Jiu-Jitsu e ainda apanhou. Ele saiu correndo, mas deixou cair a carteira e a foto da identidade está nos ajudando na localização”, contou.
Ariel disse também que há um trabalho de investigação e de diligências pelos bairros da Mangabeiras, Jatiúca e região. Em uma das operações da Polícia Civil dois envolvidos em crimes na região foram presos.
“Sabíamos do envolvimento deles com alguns assaltos que andavam acontecendo na região. Investigamos se o Tiago e outros assaltantes que agem na área tem ligação com esse grupo que foi preso, mas ainda não podemos divulgar nada”, afirmou.