Pior Estado, Alagoas tem cerca de 10 mil alunos sem aula
Conteúdo publicado por Divulgação em: 15/08/2012 às 8:43h.
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Os novos números do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) reforçam a posição de Alagoas entre os piores lugares do país em relação à qualidade do ensino público. Os dados são reflexos de um Estado líder em analfabetismo e que enfrenta problemas dos mais diversos, que vão de questões sociais a falta de infraestrutura, como a que impede que cerca de 10 mil alunos da rede estadual tenham aulas porque 163 escolas estavam ameaçadas de cair.

Esse é o caso da Escola estadual Rosalvo Lôbo, no bairro de Jatiúca, em Maceió. O teto da sala de informática caiu no início do ano e os técnicos perceberam ainda que cupins infestavam toda a madeira. Resultado: interdição do prédio.

As reformas começaram há três meses e a previsão é que terminem apenas em fevereiro. Até agora, os 786 alunos ficaram sem aulas. A retomada seria essa semana, em tendas climatizadas instaladas temporariamente na escola Théo Brandão. Porém, um protesto dos estudantes do colégio anfitrião gerou novo impasse. “Os alunos da Théo Brandão fecharam a escola e não querem os alunos da Rosalvo Lôbo por lá. Eles dizem que as tendas foram instaladas na área de educação física deles”, conta uma professora, sem querer se identificar. “A Secretaria (de Educação e Esportes) ligou e resolveu o problema. As aulas começam na próxima segunda-feira”, finaliza.

Felipe Matheus, de 16 anos, foi à escola de bicicleta para saber quando começariam as aulas. Desde maio espera o início do ano letivo. Ele está no 8º ano. “Fico em casa no computador. Ou então andando de bicicleta. Não faço nada”, resume ao afirmar que ainda não se acostumou com a ideia de estudar em tendas. “Sei não! Se não tiver jeito, vai ser assim. Não posso ficar sem estudar”, afirmou.

Segundo a assessoria de comunicação da secretaria estadual da Educação e do Esporte, houve atraso nas obras porque a empresa inicialmente contratada não cumpriu com os prazos. Um novo contrato foi assinado com outra construtora e a obra foi reiniciada somente na última segunda, dia 6. A conclusão do processo de montagem das tendas está prevista para a próxima sexta-feira e as aulas serão retomadas na segunda, dia 20. Ainda de acordo com a assessoria, o período no qual os alunos ficaram sem aulas será reposto a fim de não prejudicar o ano letivo.

Ao todo, 163 escolas tiveram de ser reformadas emergencialmente. O Ministério Público Estadual investiga irregularidades nos contratos. Atualmente, 34 escolas na capital e no interior ainda continuam em obras. Em 19 delas, o ano letivo não começou.

Em Alagoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um em cada quatro estudantes não sabe ler nem escrever. E de acordo com o Ministério da Educação, o índice que avalia a qualidade do ensino em Alagoas é um dos piores do Brasil.

São números que acabam gerando outros recordes. Alagoas é líder no Brasil em assassinato de jovens e crianças. Sete em cada 10 homicídios, segundo a Polícia Civil, tem envolvimento com drogas. “Para entender as razões deste processo, é só a gente olhar a qualidade do serviço público oferecido em Alagoas. Os cargos comissionados são preenchidos por indicações políticas e o foco na palavra ‘Educação’ acaba ficando em segundo, terceiro ou quarto plano”, disse a educadora e cientista social, Ana Cláudia Laurindo.

“Vai se colocando qualquer um. Por isso, nada justifica chegarmos ao século 21 com uma criança de 10 anos, matriculada e estudando em uma escola pública sem saber ler nem escrever. É uma cena comum. Só o descaso explica isso”, afirma.

O secretário de Educação e Esportes, Adriano Soares, não quis se pronunciar sobre os novos dados do Ideb. Sobre os problemas na pasta, Soares admite os números negativos e diz que a educação alagoana está sendo preparada “focando o futuro”. A resposta dele foi dada em um texto publicado na rede social Facebook: “Desde o início venho afirmando: 2012 será um duro ano de travessia, de mudanças, de problemas. Estamos focando no futuro, que já começa agora. Estamos trabalhando com foco, com perseverança e determinação. E dando a cara para bater, porque temos orgulho do que estamos fazendo”, disse o secretário.

Nordeste com piores índices
O Nordeste concentra os índices mais baixos do Ideb nos anos finais do ensino fundamental. A média na região é de 3,5 pontos, acima da meta projetada de 3,3 pontos. Alagoas tem a pior marca do país, com 2,9 pontos, mesmo índice registrado em 2009. Sergipe e Bahia obtiveram 3,3 pontos, mas a meta para os sergipanos era 3,5, enquanto que para os baianos era de 3,2 pontos. Entre os estados do Nordeste, destaque para Ceará, com 4,2 pontos, muito acima da meta projetada de 3,6 pontos.