A adolescência – marcada pela turbulência hormonal e pelo amadurecimento acelerado do corpo – não é o único período de transformações na vida sexual feminina. Enquanto para os homens as coisas neste setor assumem uma longa estabilidade com a chegada dos 20 anos, para elas o início da idade adulta é só o primeiro momento de transformações. Uma década depois, aos 30, e mais para frente, aos 40, o comportamento erótico ainda muda bastante.
“Quando se perde a virgindade, você descobre o que é o sexo, mas não faz ideia de quanto ele pode ser explorado. Com a chegada dos 20, você começa a descobrir que nós podemos criar as nossas próprias regras na cama. E aí sim começa a diversão”, conta a tradutora Jaque Barbosa, de 22 anos.
A sexóloga do Instituto Kaplan de São Paulo, Maria Cristina Romualdo Galati, concorda com a ideia de que a casa dos 20 anos é realmente a faixa etária da diversão sexual com intensidade para mulher. “É uma fase que a sexualidade está presente em tudo, desde a atividade esportiva à balada. Ela quer despertar o desejo do outro e para isso usa roupas mais atraentes”, explica a especialista. Mas nem tudo são flores. Nesse período a falta de experiência ainda atrapalha o exercício pleno do desejo. “Muitas garotas nessa idade se preocupam mais em agradar o parceiro do que com o próprio prazer”, aponta Maria Cristina.
“Algumas ainda não descobriram que a atitude faz muito mais diferença do que os pequenos detalhes – como a lingerie sexy ou a depilação em dia. Elas também não falam do que gostam por medo de parecerem safadas aos olhos do parceiros, o que é uma ironia, já que é exatamente uma mulher sem amarras que os homens mais procuram”, diz Jaque, completando a lista dos freios aos 20 anos. Para ela, porém, a melhor fase do sexo para mulher é a que ainda está por vir, os 30 anos.
Aos 38 anos, a apresentadora Penélope Nova confirma a expectativa de Jaque. “É a melhor fase da minha vida em relação ao sexo. Aos 30, a relação entre quantidade e qualidade faz uma inversão. Não que a quantidade não seja importante, mas a gente passa a valorizar mais qualidade do sexo. Você passa a se preocupar mais com o seu prazer do que com o do outro”, analisa Penélope, que atribui parte dessa mudança a um conhecimento melhor do próprio prazer. “Geralmente, uma mulher na casa dos 20 tem preconceito com a masturbação, diz que não precisa disso porque tem namorado. Uma mulher de 30 sabe que uma coisa não tem nada a ver com a outra”, afirma.
A próxima casa nessa trilha do desejo feminino é a dos 40. “Se eu fosse fazer um gráfico da sexualidade feminina, eu diria que a faixa ao redor dos 45 anos seria uma curva de baixa. Não estou dizendo que não é uma fase de realização e de prazer. Mas o foco é outro, pode ser os filhos adolescentes, que exigem muita energia, ou as preocupações com a menopausa”, pondera Maria Cristina. “Mas lá pelos 50, 55 ou 60 anos, dependendo de quando a baixa começou, o desejo volta”, completa.
No segundo casamento e mãe de uma filha, Sandra tem 45 anos e concorda que essa faixa é mesmo um novo momento na sexualidade da mulher. Tanto que até criou um blog, Mulher de 40, para trocar experiências com mulheres na mesma fase. “Passei por uma tempestade hormonal, sentimental e existencial imensa e precisava desabafar anonimamente. Encontro muitas mulheres que passam exatamente pelas mesmas experiências, têm as mesmas inquietações e desejos, de forma que essa troca nos deixa sentir que somos normais e não as loucas como muitos querem nos rotular”, conta a blogueira, que prefere não se identificar e usa um nome fictício nesta reportagem.
Independente da faixa etária que a mulher esteja, uma atitude é fundamental para manter o prazer pleno. “O olhar da mulher tem que estar centrado no que ela quer ou não quer. Ela não pode abrir mão do papel de protagonista do desejo dela. Sentir, reagir e ver para onde o corpo dela está levando. Ela tem que pensar: ‘Eu faço sexo para ter prazer para mim’”, aconselha Maria Cristina. “Se você vai lá para satisfazer o outro ou porque faz tempo que não transa, isso tem muita chance de dar errado”.